sábado, 18 de abril de 2009

Klabin e a Monte Alegre do Tibagi


Hotel Ikape, na antiga colina "Mortandade", atual Harmonia, Monte Alegre

Neste 19 de abril, a Klabin comemora 110 anos de Brasil. Nos sertões inóspidos do Paraná contruíram ao longo dos últimos 69 anos a maior fábrica de papel da América Latina. Ali, na Fazenda Monte Alegre do Tibagi, atual munícipio de Telêmaco Borba, o mundo se reuniu e de mãos dadas, judeus, católicos, protestantes, muçulmanos, ortodoxos, umbadistas, agnósticos de etnias tão diferentes como os polacos, lituanos, ucranianos, suecos, finlandeses, austríacos, alemães, russos, turcos, portugueses e os mineiros, paulistas, baianos, gaúchos, catarineses, paranaenses, africanos e índios tiveram no trabalho e na Harmonia a principal razão de suas existências.


Sócios fundadores de Klabin Irmãos & Companhia - 1911.

Como filho de uma colônia multinacional, descobri muito recentemente que a colônia polaca de Monte Alegre era muito maior do que muitas tradicionais do Sul do Brasil. Porque diferente de todas as outras, Monte Alegre foi criação dos irmãos lituanos-judeus Klabin e Lafer e não de iniciativas nacionais, estaduais ou municipais.
Portanto, também posso dizer que sou filho de uma colônia polaca brasileira e por isso aqui está a história dos Klabin, dos Lafer e da Monte Alegre do Tibagi.


Avenida Brasil, em Harmonia, na atualidade

Os irmãos lituanos


Maurice Freemann Klabin, quando jovem. Retrato de 1888, Londres

Cinco irmãos Klabin tinham vindo para São Paulo, procedentes da Lituânia (ainda União das Repúblicas Polônia e Lituânia, ocupada pela Rússia desde 1795) entre 1880 e 1885: Maurice, Salomon, Hessel, Ludwig e Nessel, filhos de Leon e Sara. 
Estabeleceram-se na capital paulista, onde até 1889, atuaram no comércio com a firma M.F. Klabin e Irmão. O escritório ficava na Rua São João, nr. 23. Ainda nesse ano, em fevereiro, três irmãos Maurice, Salomon e Hessel e um cunhado Michal Lafer (casado com Nessel) constituíram em substituição à primeira firma, outra com o nome de “Klabin, Irmão e Cia”, a KIC, que era uma Sociedade Mercantil para exploração do mesmo ramo de negócios, ou seja, papéis, livros, objetos para escritório e outros artigos. O capital inicial era de 80 contos de réis, sendo que o sócio Maurice entrava com o dinheiro e os outros com mercadoria. Ao final do contrato social, redigido e assinado pelos quatro sócios estava escrito “a sociedade durará pelo tempo de três anos, a contar da data do presente contrato”. (Na foto pequena Bertha e Maurice F. Klabin)


A vista áerea de Harmonia, que o presidente Getúlio Vargas
viu da janela do avião em janeiro de 1944.

A KIC estava destinada a ultrapassar um século a mais do que os três anos previstos. Comercializando com papel, em 1906, os irmãos resolveram fabricar o próprio produto que vendiam. A KIC arrendou uma máquina de uma companhia que funcionava, desde 1890, em Itú, interior do Estado. Nas duas primeiras décadas do século 20, a expansão dos negócios do grupo Klabin ocorreu apenas no Estado de São Paulo.


Horácio Lafer e o presidente Getúlio Vargas, a usina do salto Mauá, no rio Tibagi, em 1954

Em 1909, no restaurante “Progredior”, na rua XV de Novembro, da capital paulista, os sócios se reuniram numa sala reservada para fundar a “Companhia Fabricadora de Papel”, que começou a funcionar em 1911 e cuja diretoria se constituiu por Maurice F. Klabin, Hessel Klabin, Salomon Klabin, Michal Lafer e José Zucci. Em 1923, o pioneiro Maurice faleceu e pouco mais tarde Michal Lafer. À frente dos negócios ficaram Salomon e Hessel.


A igreja de madeira, na av. Brasil de Harmonia,
 onde meus pais se casaram e eu fui batizado

Em 1932, a KIC expandiu-se para o Rio de Janeiro. Os irmãos Salomon e Hessel, acompanhados por Boris Abraanson, foram ao Rio de Janeiro de carro para se encontrar com Wolf Klabin. Este era, nessa época, gerente da filial da KIC no Rio de Janeiro. Wolf os levou para visitar um velha fábrica de louças de mesa e isoladores. Os Klabin resolviam assim entrar no ramo da cerâmica, comprando a “Manufatura Nacional de Porcelana", que em pouco tempo se transformou na maior produtora de azulejos da América Latina. Possuía três mil operários e fabricava 6,5 milhões de metros quadrados de azulejos por ano, tornando assim, o Brasil autossuficiente e independente das importações, basicamente da Alemanha.

Rua Beta na Harmonia dos anos 50

Nessa época dois nomes da nova geração, já nascidos no Brasil, passaram a opinar nos destinos do grupo e foram responsáveis pela diversificação da empresa. Eram eles, Wolf Klabin e Horácio Lafer.
Era então, interventor do Paraná, o sr. Manoel Ribas, que ofereceu à KIC umas terras nos sertões da região central do Paraná. Era uma fazenda existente desde 1727, quando José Felix da Silva recebeu em sesmaria nas margens do Rio Tibagi. Manoel Ribas, gaúcho e amigo de Getúlio Vargas tinha conhecido Wolf Klabin, no Rio Grande do Sul, numas das andanças do paulista pelo Brasil.


Aracy Rosa, esposa do escritor e cônsul Guimarães Rosa salvou centenas de judeus em Hamburgo, fornecendo vistos para emigrarem para o Brasil, fugindo do nazismo. Acima, telegrama enviado pelo cientista Albert Einstein, em 1949, pedindo apoio de Wolf Klabin para um emissário de Israel.

A fazenda do Brasil colonial
A fazenda Monte Alegre do Tibagi, tinha sido palco de algumas tragédias, como a do próprio José Felix, que se casando em 1781 com a jovem Onistarda, teve os dedos da mão esquerda decepadas e cortados três dedos da mão direita e para sempre ficou coxo de uma perna. José Félix tinha sido vítima de um atentado engendrado pela esposa, que o odiava terrivelmente. A mulher foi sentenciada como criminosa, em processo criminal que aconteceu na cidade de Castro. Em 1808, contudo, foi lavrada uma escritura de “perdão”, a pedido do marido.
Amargo e infeliz, o fazendeiro era, contudo, um homem ativo. Em Castro atuou como juiz ordinário, juiz de conselho, ajudante de milícias e capitão de ordenanças em Piraí e Furnas. Por volta de 1796, um amigo de José Félix foi visitá-lo na Fazenda Fortaleza, 17 km do povoado de Tibagi. Brígido Álvares recusou escolta do amigo fazendeiro para voltar a Castro. No dia seguinte, com uma flecha em cada olho, sua cabeça foi espetada num dos portões da Fazenda de José Félix. Em represália, o fazendeiro ordenou a seu capataz, Antonio Machado Ribeiro que fosse a busca dos índios caingangues, que sempre habitaram aquelas terras imemoriais. Uma carta do século 18, cita o ocorrido como a “Chacina do Tibagi”. A matança generalizada dos índios ocorreu nas margens do mesmo Rio Tibagi, uns 50 km mais ao Norte. Aquela colina ficaria conhecida nos séculos seguintes como "Mortandade”, até que a Sra. Luba Klabin mudasse o nome do local, em 1941. Ali foram construídos um hospital e um hotel, muito próximos de onde hoje se encontra a maior fabricante de papel da América Latina e uma das 7 maiores do mundo: a Klabin do Paraná. Desde então, a sede da Fazenda Monte Alegre do Tibagi, deixou de ser a Fazenda Velha de José Félix da Silva para se transformar na Harmonia.


Construção da ponte sobre o rio Tibagi ligando Harmonia a Cidade Nova

Pois foi esta fazenda que os Irmãos Klabin compraram do Banco do Estado do Paraná, já que os herdeiros de José Félix da Silva ao se associaram com um francês para criar a empresa “Companhia Agrícola e Florestal e Estrada de Ferro Monte Alegre” perderam aquelas terras na falência da empresa. A massa falida foi a leilão em 1933 e foi assim que o Banco do Estado do Paraná a arrematou por 4 mil contos de réis.
Em 1934, a Klabin do Paraná comprou a Fazenda Monte Alegre do Tibagi por 7.500 contos de réis. A empresa dos herdeiros de José Félix tinham construído 42 km de estrada até o rocio da pequena Tibagi, uma ligação telefônica entre a Fazenda e Tibagi, um casarão de madeira e alguns galpões rústicos. Das novas gerações da família, Samuel Klabin foi o primeiro a visitar aqueles sertões. Samuel depois de freqüentar o Colégio Mackenzie e a Escola de Altenburg aperfeiçoou seus estudos na Finlândia e Alemanha. Regressou ao Brasil aos 22 anos para trabalhar com fabricação de papel e foi logo incumbido por seu pai Salomon de conhecer as terras do Paraná. Num Ford 1929 e acompanhado por Reinaldo Bronnert viajou até Curitiba e dali até Tibagi, passando por Ponta Grossa e Castro. Encontrou na pequena cidade, as tradicionais famílias dos Bittencourt, Mercer, Borba, Carneiro, Guimarães que viviam do garimpo do diamante nas corredeiras do rio turbulento e sinuoso dos Campos Gerais há décadas. Como a fazenda ainda ficasse a 50 km foram aconselhados a pernoitar na antiga cidade. Morava ainda na cidade, o geólogo da empresa falida, Reinhardt Maack, que mostrou naquela mesma noite, filmes sobre Monte Alegre. Garimpavam no rio naquela época cerca de 5 mil homens, a maioria contratados das tradicionais famílias locais e muitos aventureiros. Samuel tomou nota de tudo o que viu. Voltou a São Paulo e contou tudo para a família.


Choupanas de troncos dos primeiros engenheiros florestais

Klabin ministro
Wolf Klabin junto com o primo Horácio Lafer (ministro das relações exteriores de Juscelino Kubitschek) assinou no tabelionato de Américo Alves Guimarães, em Curitiba, a escritura de promessa de compra e venda da Fazenda Monte Alegre, adquirida do Banco do Estado do Paraná, em 29 de outubro de 1934. Eram 143.516 hectares de terras. Dias antes, num outro cartório, este em São Paulo, era registrada a fundação das “Indústrias Klabin do Paraná”. Constituída por nove sócios, Salomon Klabin, Hessel Klabin, Jacob Klabin Lafer, Wolf K. Klabin, Eva Cecília Klabin Rapaport, Ema Gordon Klabin, Mina Klabin e Abraão Jacob Lafer, a empresa foi registrada no 11º. Tabelião, na Junta Comercial e publicada no Diário Oficial de São Paulo, nr. 234, nas páginas 31 e 32.  Wolf Klabin morreu em março de 1957 e teve seu nome perpetuado no Colégio Estadual Wolf Klabin de Telêmaco Borba. Os Horácios, Klabin e Lafer são nomes de avenida na mesma cidade (Na foto, o Horácio Lafer quando era ministro das relações exteriores). Horácio Lafer nasceu em São Paulo em 3 de maio de 1900 e morreu em Paris, em 29 de junho de 1965. Diplomata, político e empresário durante o governo Washington Luís foi o representante do Brasil na Liga das Nações e em 1934 foi eleito deputado federal. Em 1951, durante o último governo de Getúlio Vargas, foi ministro da Fazenda e já em 1959, no governo de Juscelino Kubitschek, foi ministro das Relações Exteriores. É tio de Celso Lafer. Ao lado de seus primos, os Klabin, foi diretor e co-fundador da Klabin Papel e Celulose.
A primeira diretoria foi composta por Salomon Klabin, presidente; Hessel Klabin, vice-presidente; e Jacob Klabin Lafer, secretário. O Conselho fiscal foi composto por Harry Levine, Lazar Kadischewitz, Abraão Jacob Lafer e os suplentes, Francisco Taranto, Augusto Rodrigues da Silva e Horácio Gordon.
Em 1937, aparece um novo nome na diretoria da Klabin do Paraná. Era o jovem Samuel Klabin, o mesmo que havia visitado Monte Alegre em 1933. Seu cargo: tesoureiro. Em 1940, ele parte para os Estados Unidos junto com o técnico Ernest Froelish. Foram encomendar projetos e comprar máquinas destinadas ao grande empreendimento daquele família chegada no Brasil no final do século 19, a Fábrica de Papel de Monte Alegre do Tibagi.


Em 1963, famílias inteiras foram desalojadas das áreas de reflorestamento
devido ao grande incêndio que quase destruiu por completo o empreendimento.

Em 9 de setembro de 1941, uma ata de assembleia da diretoria, relata dados do empreendimento nos sertões do Paraná. Com o capital inicial quadruplicado, a denominação da empresa passa a ser, “Indústrias Klabin do Paraná de Celulose S.A. – IKPC". Tem agora novos sócios e a nova diretoria passa a ser composta por: presidente, Salomon Klabin, 1º. Vice-presidente, Olavo Egídio de Souza Aranha, 2º vice-presidente, Hessel Klabin, 3º vice-presidente, Wolf Klabin, diretor-tesoureiro Jacob Klabin Lafer, diretor-secretário, Samuel Klabin. 


Wolf Klabin e Getúlio Vargas, no aeroporto de Monte Aegre, em 1954


O nome na diretoria de origem portuguesa Olavo Egídio de Sousa Aranha era um campineiro político, advogado, fazendeiro e banqueiro. Formado na Faculdade de Direito do Recife, foi vereador em São Paulo, deputado estadual, deputado federal, Secretário de Fazenda do Estado de São Paulo e Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo. Como banqueiro foi diretor do Banco de Crédito Hipotecário e Agrícola do Estado de São Paulo e membro da diretoria das Indústrias Klabin. O outro Souza Aranha, Osvaldo Euclides de Souza Aranha, embora não tivesse parentesco com o vice-presidente Olavo Egídio, foi muito ligado aos Klabin e Lafer, por suas relações no governo Getúlio Vargas. Osvaldo que ocupou vários ministérios nos quinze anos da era Vargas foi também ministro das relações exteriores do Brasil.


Getúlio Vargas em filme da época visita Monte Alegre do Tibagi


Na Conferência do Rio, em janeiro do 1942, presidida por Osvaldo Aranha, o Brasil, e todos os países americanos decidem por romper as relações com os países do Eixo menos Argentina e Chile, que o fariam posteriormente. A decisão foi uma vitórias das convicções pan-americanas de Aranha. Em 1944, Aranha se demite do cargo de chanceler, após ser enfraquecido dentro do governo e pelo fechamento da Sociedade dos Amigos da América, do qual era vice-presidente. Para muitos observadores da época, Aranha era o candidato natural nas eleições de 1945, mas a parca base política e a fidelidade a Vargas o impediram de disputar as eleições. Voltou a cena política em 1947, como chefe da delegação brasileira na recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Presidiu a II Assembléia Geral da ONU que votou pela partilha da Palestina, fato que rendeu a Aranha eternas gratidões dos judeus e sionistas por sua atuação. Devido a sua presidência naquele momento é que o Brasil todos os anos abre os trabalhos anuais da organização mundial, geralmente com uma palestra do presidente da República Federativa do Brasil.

A fábrica nas margens do Tibagi


Panorama da Fábrica após a última ampliação


A fábrica, apesar da segunda guerra mundial começou a ser erguida nas margens do Rio Tibagi, na antiga colina chamada de Mortandade, mas logo em seguida, denominada Harmonia, pois aquele empreendimento de vulto não poderia estar assentado numa terra com um nome de triste memória.
Para que as obras não se detivessem, os Klabin contraíram empréstimo do Banco do Brasil. Em razão disto, o presidente Getúlio Vargas ordenou que a construção da fábrica e a criação da área de reflorestamento fosse administrada por um homem de sua confiança. Assim o engenheiro Luiz Augusto da Silva Viera, do Ministério da Agricultura e famoso no Serviço Público foi morar em Monte Alegre para supervisionar as obras na construção da Usina hidroelétrica de Mauá, na represa de água de Harmonia e a organização da vida comunitária.


Bonde aéreo inaugurado, em 1959, sobre o rio Tibagi

A legião estrangeira
Veio gente de todo lugar. Dos municípios vizinhos aos técnicos fugidos da segunda guerra mundial. Reuniu-se naquele sertão pessoas tão diferentes e tão iguais como suíço J.B. Boesh, o engenheiro polaco Ignácio Sporn, o finlandês Irjo Virta, o português Artur Carvalho, o austríaco Karl Zappert, o alemão Albert Ehlert e o polaco Leon Sisla, o austríaco Francisco Riederer, os húngaros Geza Vayda e Bella Thuroniy, o sueco Leo Wikstroem, o finlandês Irjo Salo, o polaco Jan Borkoski, o turco Dara Sekban, o belga Cláudio Lobl, o iugoslavo Peter Lemr, o austríaco Alfred Leon, o polaco Franz Kraczberg (atualmente famoso mundialmente por suas esculturas de árvores retorcidas), as irmãs polacas Leokadja e Tocsia Zaremska, os alemães Johan Rodelheimer, Wilem Willer e Johnny Schwartz, o austríaco Max Staudacher, os tchecos Vladzyslav Rys, Overbeck, Jiri Aron, Stanislav Jesek, o ucraniano Wlodomir Galat, o russo Isaak Kissim e os engenheiros florestais polacos comandados por Zygmunt Wielicka como Stanislaw Kocinski, Maurice Golebiowski, Czuprowski, Sluzanowski, Sladkoski, Kaszkurewicz, Rodolf Kohout e Wiska.

A moderna Rodovia do Papel substituiu as antigas estradas de macadame da Fazenda

Um outro Klabin que marcaria seu nome para sempre naquelas terras foi Horácio Klabin, fundador do jornal "O Tibagi" e da Rádio Sociedade Monte Alegre. Entusiasta do esporte fez do CAMA uma das maiores equipes de futebol que o Paraná já viu jogar. Em sua origem o clube se chamava Klabin Esporte CLube. Com o desenvolvimento da indústria e com a proposta de divulgar o nome de Monte Alegre, foi então quem em 1° de maio de 1946, o CAMA surgia para no futuro obter uma das mais importantes conquistas de sua história. Mesmo já fundado, a equipe continuou utilizando o nome de Klabin EC por algum tempo.O grande Coritiba Futebol Clube da capital, viu sua sequência de títulos ser quebrada com o aparecimento daquela esquadra chamada de "pantera negra" na década de 50. E foram duas vezes, uma em 1955, com o título da primeira equipe do interior do Estado e em 1958, quando o Atlético Paranaense foi campeão com a maioria dos jogadores do CAMA de 55, além do técnico Motorzinho e do artilheiro Taíco. Horácio pessoalmente trouxe para o sertão paranaense jogadores do Corinthias, do Flamengo, como Bolivar, Pequeno, Taíco e outros.O estádio de Harmonia recebeu a denominação de “Estádio Dr. Horácio Klabin”, inaugurado em 10 de abril de 1949, numa partida entre o Clube Atlético Paranaense e o Corinthians Paulista, a partida encerrou empatada em 3 a 3. A campanha vitoriosa de 1955 com 28 partidas, teve o CAMA como vencedor em 18 jogos, tendo empatado 4 e sofrido 6 derrotas. O técnico Rui Santos, conhecido por “Motorzinho”, montou com a ajuda de Horácio Klabin “uma máquina de jogar futebol”.


Equipe do CAMA- Clube Atlético Monte Alegre de 1949

O CAMA foi o vencedor dos dois primeiros turnos e decidiu com o Clube Atlético Ferroviário, vencedor do terceiro turno, numa melhor de três. O primeiro duelo aconteceu no estádio Durival de Brito, em 08/04/1956, jogo que terminou em 2 a 2. O segundo confronto foi em casa, no dia 15/04/1956, onde o Pantera Negra suplantou o adversário inapelavelmente por 3 a 1. A terceira e decisiva partida aconteceu no dia 22/04/1956, no estádio Joaquim Américo, onde o CAMA venceu pelo placar de 1 a 0, gol de Nelson. Artilharia Pesada no ano da conquista - César Frízio e Ocimar anotaram cada um 15 gols; Taíco 14; Nelson 10; Nestor 7; Isaac e Torres 4; Aloísio 2 e Rubens, Juths e César Veiga, cada um, assinalou 1 gol. A equipe campeã, a primeira do interior do estado era formada pelos seguintes jogadores: Bolívar, Aurélio, Juths, Pequeno, Juninho, Augusto, Isaac, César veiga, Nestor, César Frízio, Taíco, Ocimar, Nelson, Orlando, Aloísio, Torres, Rubens, Osvaldo, Lúcio e Amaro.


Outro nome importante na história recente do Brasil está ligado a Monte Alegre. É ele Celso Lafer, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e ex-ministro das Relações Exteriores, em duas ocasiões, em 1992 e de 2001 a 2002, nos governos de Fernando Collor e no de Fernando Henrique Cardoso, além de embaixador do Brasil junto à OMC, embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU) de 1995 a 1998.  Celso é filho de A. Jacob Lafer, que ainda estudante na década de 50 passava suas férias em Monte Alegre. Fazia pique-niques no Salto Aparado e na Praia da Lontra Mansa com a turma de jovens montealegrenses como Marianne Zappert, Maria Emilia Steiger, Zelma Tavares, Nucha Snutianoski, Wanda Tobich. Celso por esta época gostava de ler e discutia com seus amigos de Monte Alegre sobre literatura, política e filosofia. Nos meses de dezembro costuma se divertir na barragem do Harmonia Clube. Celso ora se hospedava na casa da diretoria (quando vinha com seus pais), ora na casa de João Teixeira de Mendonça. Celso foi o representante da quarta geração dos clãs que mais frequenta Monte Alegre. Esteve presente na inauguração da máquina seis.
Atualmente Celso Lafer é coordenador da área de Concentração de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da USP, presidente do Conselho Deliberativo do Museu Lasar Segall e co-editor da revista Política Externa. Integra também o Conselho de Administração de Klabin e desde 2002 é membro da Corte Permanente de Arbitragem Internacional de Haia. 

Meu avô


Vista aérea atual com a cidade de Telêmaco Borba, o rio Tibagi e a Fábrica de Papel
O engenheiro polaco Zigmunt Wielicka, o "gralha azul"
plantou 100 milhões de pés de araucária (pinheiro do Paraná) em Monte Alegre

Junto aos estrangeiros, muitos outros também com sobrenomes difíceis de pronunciar e escrever vieram em busca do paraíso verde do trabalho, como os brasileiros descendentes de polacos, ucranianos, alemães, italianos como Swieski, Tobich, Styber, Massoquete, Jantas, Roda, Gotardelo, além dos sobrenomes portugueses de Péricles Pacheco da Silva, João de Paula Pinto, Dimas Cardoso, Benedito Dutra, Euclides Marcola, Paulo Rios Fernandes, Joaquim Batista Ribeiro, David Natel, Alexandre Kassab, Lourival Elias, Francisco Tito Quadrado, René Pucci, Teodoro Castro Ribas, Jorge Mesquita de Oliveira, Adolfo Taques, Nemézio Boska, Aldo Sani e tantos outros (e até o assassino do meu pai.. Nadal Banik, fugitivo que não foi julgado e nunca pagou por seu crime).


Meu avô, o polaco de Wojcieszków-Polônia, Boleslaw Jarosinski,
entre colegas e caminhões do setor de transportes,
quando da construção da fábrica em 1941

Também o meu bisavô polaco Piotr Jarosiński, de Dobre - Minsk Mazowiecki, meu avô polaco Bolesław Jarosiński, meu tio Frederico Blanc Mendes, meu avô mineiro Honorato Pereira da Silva e outros tios, tias e primas fizeram a história de Monte Alegre do Tibagi, infelizmente denominada Telêmaco Borba, quando de sua emancipação política, em 1963, da bicentenária Tibagi. O nome dado para o novo município foi uma imposição dos descendentes deste curitibano, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Tibagi, moradores de Tibagi e Curitiba, inclusive um ex-governador.
Telêmaco Augusto Morosines Borba, alguém que nada fez por Monte Alegre do Tibagi, por Harmonia, por Mandaçaia, por Barro Preto, por Mauá, por Lagoa, por Miranda, por Mirandinha, por Imbaú, por Mina de Carvão teve seu nome perpetuado numa criação que é toda dos Klabin e os estrangeiros e brasileiros de todos os rincões do mundo. Um dos descendentes de Telêmaco Borba, o historiador castrense Oney Barbosa Borba conta em seu livro "Telêmaco Mandava Matar", que o seu ancestral famoso teria sido o mandante do assassinato do então prefeito de Tibagi, Coronel Espírito Santo. Os verdadeiros assassinos seriam seu filho Euzébio Borba e o negro Jocelim. Na tentativa de encobrir o crime, muitas outras pessoas foram mortas, inclusive o neto do coronel de nome Aparício Borba que bebeu o café de uma xícara envenenada que estaria destinada ao escrivão José Rachael Pinto, um dos participantes do julgamento, que embora compadre de Telêmaco contava para todos que aquilo tudo tinha sido uma farsa para encobrir o mandante. Telêmaco que era então presidente da Câmara de vereadores com a morte do prefeito e seu adversário político assumiu a prefeitura e sem oponentes ganhou as eleições seguintes.


Meu pai, Cassemiro Iarochinski, funcionário da divisão
de transportes da Klabin do Paraná, em 1958.

Mudar o nome do município?
Quando as famílias Klabin e Lafer comemoram 110 anos de fundação da empresa familiar nada mais justo seria que o município passasse finalmente a se chamar Monte Alegre do Tibagi, Monte Alegre do Paraná, Harmonia, Klabinlândia, Klabinburgo, ou outra qualquer denominação que faça jus a história do lugar, ou aos que transformaram um sertão numa das maiores indústrias de papel e maior parque de reflorestamento particular do mundo.


Entrada principal da cidade de Telêmaco Borba

Como filho nascido nos fundos da fábrica, no sopé da antiga colina Mortandade e atual Harmonia,  quando ainda era município de Tibagi, nada me faria mais feliz do que o enterro definitivo de Telêmaco Borba na memória de infelizes idéias marcadas por imposições políticas de famílias tradicionais, que tudo fizeram para tornar dificil o desenvolvimento da região.
Como também, que a lei inconsequente dos vereadores do munícipio ao mudar o nome da praça Jiri Aron, na confluência das avenida Paraná e Samuel Klabin, para praça da Bíblia fosse revogada, não só porque é inconstitucional (lei Federal impede que se troque denominação de logradouros públicos que já possuam nomes de pessoas para outros quaisquer), mas porque fere a memória do judeu Aron, que durante a década de 1955 a 1966 foi responsável pelo período de maior redimento econômico da IKPC, desde sua fundação.

* texto extraído em parte do livro "Monte Alegre cidade-papel" da jornalista Hellê Velloso Fernandes, publicado em 1974, em Curitiba. Fotos antigas cedidas por Lúcia Swieski, álbum de família Iarochinski e acervo iconográfico "pioneiros" da USP.