domingo, 23 de setembro de 2007

Polaco ou polonês?

Reproduzo artigo do colunista Dante Mendonça do jornal "O Estado do Paraná", dante@oestadodoparana.com.br com o título de "Polaco ou polonês?" publicado na edição deste domingo 23/09/2007, em Curitiba.
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Ao começar a escrever o livro A Banda polaca - O humor do imigrante no Brasil Meridional - uma das minhas preocupações foi o adjetivo pátrio: polaco ou polonês? Este gentílico ainda é motivo de muita “briga de ripa” entre os imigrantes, por ter se transformado numa expressão pejorativa. Na língua polaca, é “polak”. No espanhol, é “polaco”. No italiano, é “polacco”. No inglês, é “polish”. No alemão, é “polnisch”. Em bom português, é “polaco”. Na língua francesa é onde encontramos “polonais”. Este galicismo foi sugestão do embaixador da França ao cônsul Gluchowisk, em 1927, como forma de substituir o polêmico “polaco”, usado para ofender os imigrantes e seus descendentes. No prefácio da Banda polaca, o jornalista e historiador paranaense Ulisses Iarochinski defende o uso do gentílico “polaco” e faz questão de assim ser chamado, com muito orgulho:
Creio que seja necessário saudar a ousadia de Dante Mendonça ao utilizar a palavra “polaco”. Desde já alerto que ele pode ter problemas com a comunidade “polonesa”, pois não foi uma nem duas vezes que meu trabalho sofreu censura. Justo pelo uso adequado do termo “polaco” na língua portuguesa. Utilizar “polaco” impediu, por exemplo, a publicação do artigo “A etnia polaca no Brasil”, de meu doutoramento na Universidade Jagiellonski de Cracóvia, em uma revista brasileira de estudos científicos. Não bastasse isso, reportagens produzidas por mim para jornais e televisão do Brasil tiveram, sem meu consentimento, mudados os registros do termo “polaco” para “polonês”.
O termo “polaco” sofre há pelo menos 85 anos campanha sistemática pela sua eliminação da língua falada no País. Alguns chegam a pregar sua total extinção dos dicionários e documentos. As gerações mais antigas simplesmente abominam o termo. Quando escrevia Saga dos polacos, publicado em 2001, o presidente de uma associação étnico-cultural do interior do Paraná interrompeu a entrevista quando ouviu o termo “polaco”. O homem, também descendente de imigrantes da Polônia, afirmou que não prosseguiria a conversa se continuasse a ouvir “polaco”. Ele se sentia terrivelmente agredido com a palavra. Perguntei o porquê da irritação. O polonês-paranaense respondeu que era um termo pejorativo.
- Por que, pejorativo?
- Não sei a razão! Meu pai sempre dizia que não aceitasse ser chamado assim, porque essa palavra era muito feia e que significava burrice e que na verdade estavam nos chamando de filho da puta. Agora chega. O senhor não pode sair por aí falando “polaco, polaco”!
Este incidente seria apenas o primeiro. Na fase de lançamento do livro por 25 cidades brasileiras, houve pelo menos outras três situações delicadas. Uma delas, inclusive, com agressão física. Irritado com o título do livro, um senhor chegou a me esmurrar duas vezes durante a seção de autógrafos.
Os estudiosos da etnia apontam que o preconceito contra a palavra “polaco” teria se iniciado na época da importação de prostitutas européias pelo Império Brasileiro. Como naquele momento a maioria das mulheres no Rio de Janeiro era de escravas africanas, o reino queria “branquear” a população. Como as importadas eram em sua maioria loiras como as “polacas” do Sul do Brasil, a população logo começou a qualificá-las de “polacas”. Num momento imediatamente posterior, a população carioca passou a denominar qualquer prostituta, fosse loira, preta, branca, amarela ou índia, com o termo “polaca”. (Ulisses Iarochinski).

Edyta Geppert: a mais notável

Talvez a mais notável cantora da Polônia. Minha ídola!!! E isso, desde a primeira vez que ela me emocionou num espetáculo no pátio interno do Collegium Maius da Universidade Jagielloński (iaguielonhsqui), em julho de 2000. Foi quando estive pela segunda vez na Polônia. Mas eu já tinha ouvido aquela voz forte cinco anos antes, quanto estive pela primeira vez em Varsóvia. Pouco antes de embarcar de retorno ao Brasil, fui numa das lojas de discos do centro da cidade e pedi ao vendedor que me indicasse duas fitas cassetes, uma do melhor cantor e outra da melhor cantora. O polaco me vendeu então Janusz Jackowski e Edyta Geppert. Passei cinco anos ouvindo aquelas duas vozes. Portanto, quando no espetáculo em 2000, reconheci naquela linda loira cantora, a mesma voz que me acompanhava há cinco anos, naturalmente fui às lágrimas. Na platéia, todos comportados, como num concerto de música clássica. Mas eu não me aguentava e aplaudia e gritava em português: maravilhosa, você é linda, bravíssimo!!!! Até que ela notou minha presença e meus gritos e ao contrário da colega brasileira que não parava de me beliscar para que eu me contivesse, a maravilhosa polaca passou o resto do show cantando e olhando só para mim. É verdade!!! Tanto que ao final do show fui o primeiro a bater na porta do improvisado camarim. Falei diretamente para Edyta que ela era a maior "show-womam" do mundo depois de Elis Regina. Não sei como, mas na hora consegui um CD autografado por ela.

Infelizmente nestes cinco anos que moro em Cracóvia, não tive ainda a oportunidade de voltar a assistir um show ao vivo com Edyta Geppert. Mas posso vê-la no alto de seus 54 anos como um monumento à beleza e ao canto neste vídeo da apresentação no Festival da Canção de Sopot deste ano:



Edyta Geppert, nasceu em 27 de novembro de 1953, em Nowa Ruda. Antes de se formar na Faculdade de Música Frederyk Chopin de Varsóvia, já se apresentava no grupo de Música e dança "Nowa Ruda". É também atriz e pedagoga. Edyta, tornou-se conhecida do público em 1984, quando venceu a VII Mostra da Canção de Atores de Wrocław (vrotssuaf) e o Grande Prêmio do XXI Festival Nacional da Canção Polaca de Opole. Edyta é única cantora polaca a vencer três vezes este festival, nos anos de 1984 com a música "Jaka róża, taki cierń" (iak ruja, taqui tchiérnh - como rosa, tal espinho), que ela canta neste vídeo; em 1986 com "Och, życie kocham cię nad życie" (Orrh, jitchie corram tchien nad jitchie - oh! vida amo te além da vida) e em 1995, com "Idź swoją drogą" (idji svoion drogon - vá por seu caminho).
Edyta Geppert não canta apenas canções suaves, versátil interpreta também "country", "hard-rock", "heavy-metal" e claro "jazz", "blues" e até bossa nova. Mas é reconhecida por seu talento dramático, lírico e poético. Seu portal oficial é http://www.egeppert.com/ . E com certeza quando eu voltar para casa, uma música na voz da "minha monstro sagrado polaca" vai me acompanhar pra lembrar da Polônia, pro resto da minha vida. Clique no link htpp://www.ui.jor.br/pamientasz.mp3 e ouça a canção "Czy pamientasz jak to było" (Tche pamientach iak to biúo - você se lembra como foi)

Zamość: sexta maravilha da Polônia

Zamość, classificada em sexto lugar, pelos Internautas do Jornal Rzeczpospolita" (jétchpospolita), entre as 7 Maravilhas da Polônia, foi declarada patrimônio da humanidade pela UNESCO em 1992.
A cidade murada foi construída, em 1580, pelo comandante das legiões polacas daquela região, Jan Zamoyski (ian zamoisqui) em estilo renascentista e por isso mesmo conhecida como a "Pérola do Renascimento". Sua praça central, Rynek Wielki (rinek viélqui - mercado grande) de 100 x 100 metros é realmente uma maravilha. Zamoyski contratou o arquiteto italiano Bernardo Morando, para projetar a cidade segundo uma concepção antropomórfica. A cabeça deveria ser o Palácio de Zamoyski, a coluna vertebral seria a ulica (ulitsa - rua) Grodzka, cruzando a praça central -Rynek Wielki - do oriente para o ocidente na direção do Palácio. Os braços compostos pelas ruas, ulica Solna (ulitssa solna) (ao Norte da praça) e a ulica Bernardo Morando (Ao Sul da praça). Ao longo destas ruas estão outras praças, Rynek Solny e Rynek Wodny (mercado do Sal e Mercado da Água), como se fosses os órgãos internos da cidade. Os Bastiões seriam as mãos e os pés encarregados da defesa da cidade. Esta configuração praticamente existe até os dias de hoje. Infelizmente, durante a ocupação russa, em 1866, foram explodidas e postas abaixo estas defesas. Restou apenas a trincheira VII e fragmentos da muranha. Tudo é muito bonito, mas vale a penas ver os seguintes locais: Ratusz (torre), Edifícios ao redor da praça central, Edificio armênio do século 17, Edifícios Morandowska II, Szczebrzeska e Turobińska do início do século 17 na ulica S. Staszica. No Rynek Solny, está o edifício "Dom Rabina" da metade do século 17 e a catedral renascentista Ressurreição do Senhor e a igreja de São Tomás Apóstolo, do fim do século 16, onde está a cripta do fundador da cidade marechal-de-guerra Jan Zamoyski. Além de outras atrações turísticas como a Akademia Zamojska, o Arsenal, Rotunda Zamojska e a Sinagoga. Esta foi construída em 1620. Durante a segunda guerra mundial, os alemães derrubaram e destruíram tudo o que tinha dentro. No fim de 1967 a prefeitura da cidade terminou a restauração e reconstrução da sinagoga e ali agora funciona a biblioteca pública e o Museu Judaico de Zamość.

Sinagoga Judaica na cidade velha
A cidade é o centro de uma microrregião composta por ela, mais Tomaszów Lubelski, Hrubieszów e Bilgoraj. Região esta, que antes da segunda guerra possuia 510 mil habitantes, dos quais 340 mil eram polacos católicos, 110 mil ucranianos e 60 mil polacos judeus. Nas 4 cidades, os judeus eram praticamente 51% da população urbana. Os judeus sefardis chegaram na cidade em 1588, procedentes da cidade de Lwów. Cinquenta anos mais tarde podiam ser encontrados ali também muitos judeus Asquenazis. Zamość foi o centro do iluminismo judeu Haskalah. Nasceram ali, entre outros, Ludwik Zamenhoff - criador da língua Esperanto - e Rosa de Luxemburgo - a revolucionária socialista. Em 1939, de uma populaçao de 28.873 habitantes, 12.531 eram judeus, ou seja 43% da cidade. Atualmente são 66.802 os moradores.


Edificios renascentistas na Praça Central
Os nazistas ao ocuparem a cidade na segunda guerra estabeleceram um plano de evacuação e de colinização. Queriam recolocar 60 mim pessoas de etnia alemã na área antes do final de 1943. Entre 1941 e 43, durante a operação Wehrwolf Action I e II foram expulsas 110 mil polacos de 297 vilas ao redor. Cerca de 30 mil eram crianças que foram adotadas por famílias alemãs para serem germanizadas no Deutsches Reich. Aqueles que não foram para os campos de concentração, fugiram para as florestas, onde organizaram a resistência, ajudando os expulsos e subornanado alemães para retirarem as crianças adotadas. Até meados de 1943, os nazistas conseguiram assentar 8 mil colonos alemães. Entre estes assentados estavam os pais do atual Presidente da Alemanha Horst Köhler, que nasceu na localidade de Skierbieszów. Se fosse válida a lei brasileira, ele seria considerado polaco.